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CARÃO NO PRÍNCIPE

Crônica extraída do livro A Alma do Penta,
de Luiz Felipe Scolari/Ruy Carlos Ostermann
O intérprete era uma espécie de anjo da guarda dos brasileiros no futebol árabe. Era posto à disposição pelos clubes para acompanhar os treinadores no trabalho e nas atividades domésticas.

O problema era o hábito corriqueiro, puro e singelo de os homens árabes andarem de mãos dadas. Felipão morria de vergonha Quando ia ao supermercado, com Olga e o filho Leonardo, o moleque fazia troça do pai, que respondia brabo: "Cala a boca, menino, ou a gente não fica mais aqui".

Em algumas situações, o intérprete salvou Luiz Felipe de encrencas. Numa cidade sagrada, perto de Meca, o Al Shabab perdia um jogo encardido por um a zero. O Príncipe - que era dono do time - rodeava o técnico, louco para dar palpite. No intervalo, intimou o treinador a fazer determinada substituição. Felipão recusou de pronto, dirigindo-se ao intérprete: "Diz para cuidar da casa dele. Quem manda aqui é eu". O rapaz arregalou os olhos e traduziu erradas as palavras de Felipão para evitar o confronto. Desconfiado, o príncipe comentou que a tradução não combinava com a expressão do rosto do treinador.

Mal começou o segundo tempo, Felipão virou-se para Murtosa no banco e disse: "Se não ganharmos, adeus, petrodólares. Vamos ter que fazer as malas". Graças a Alá o time virou o jogo e venceu por 4 a 1. No hotel o príncipe convocou uma reunião e pediu respeito."Calma, eu entendo. Mas o senhor tem que entender que no time mando eu", fincou pé o técnico.

Chico Victória - 01/11/2005
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